Vivendo entregue à soberania de Deus

Ezequiel 37:1-3: “Veio sobre mim a mão do SENHOR; e o SENHOR me levou em espírito, e me pôs no meio de um vale que estava cheio de ossos, e me fez andar ao redor deles; e eis que eram mui numerosos sobre a face do vale e estavam sequíssimos. E me disse: Filho do homem, poderão viver estes ossos? E eu disse: Senhor JEOVÁ, tu o sabes.”

A visão do profeta Ezequiel a respeito do vale de ossos secos é muito conhecida pelos cristãos. O capítulo 37 do seu livro é bastante explorado nas pregações e louvores. É uma história de milagres, na qual Deus mostra a Ezequiel que, apesar da nação israelita apresentar-se em cativeiro na Babilônia, ou seja, simbolicamente morta, Deus estava tratando com seu povo e iria retorná-lo para sua terra a fim de cumprir as suas promessas. A palavra de Deus se renova em nossos corações. O Senhor nos mostra a cada dia algo novo dentro das escrituras, por mais conhecido que seja o texto. Portanto, gostaria de escrever um pouco sobre como Ezequiel se entregou à soberania de Deus na visão dos ossos secos. 

Segundo o dicionário da língua portuguesa, a palavra ”soberania” significa poder supremo, autoridade moral ou excelência. Por exemplo: quando falamos que o Senhor é soberano, dizemos que Ele tem o poder supremo, a autoridade moral e é excelente por essência. Sendo assim, inserimos Deus no lugar que lhe é de direito, reconhecemos o seu poder e nos colocamos abaixo dele. 

Em uma visão teológica, a soberania é um atributo ativo de Deus, ou seja, revela o seu caráter em relação ao universo. Diante disso, Deus exerce a autoridade suprema perante o universo, e isso inclui o ser humano (Rm 9:20-21; Dt 4:35). Segundo Myer Pearlman, no livro Conhecendo as Doutrinas de Deus, “Ele tem esse direito em virtude de sua infinita superioridade, de seu domínio absoluto de tudo e de todas as coisas dependerem totalmente dele para continuar a existir”. 

Em Ezequiel 37, Deus leva o profeta em espírito a um vale cheio de ossos secos e o faz andar no meio desses ossos. Após essa visão terrível, esse ambiente hostil e destruído, Deus confronta o profeta com uma pergunta que chega a ser assustadora diante do contexto da visão: “Filho do homem, poderão viver estes ossos?”. Essa questão soa como um confronto à nossa fé. Aos olhos humanos, é impossível um conjunto de ossos secos reviverem. Na visão limitada do homem, isso é uma ilusão e nunca poderá acontecer. Prosseguindo com o texto, Ezequiel responde Deus de forma surpreendente: “Senhor JEOVÁ, tu o sabes”. 

A nossa fé é confrontada frequentemente. Como servos do Senhor, em vários momentos somos provados diante de uma situação difícil. O mundo vive uma realidade terrível de violência, insegurança, busca pelo poder, pelo espaço, falta de educação, corrupção, inversão de prioridades, etc.. Somos confrontados pelas pessoas que em todo tempo tentam nos mostrar que estamos em um caminho de ilusão. Todavia, a resposta do profeta Ezequiel fornece um modelo de comportamento diante dessas situações difíceis:

“Senhor Jeová, tu o sabes” 

a) Na primeira parte da resposta do profeta, ele expressa a soberania de Deus: “Senhor JEOVÁ” ou como a NVI diz “Ó Soberano Senhor”. Expressar Deus é bom, mas é algo comum. Vejo que esse ato é praticado pela maioria das pessoas em várias situações. Não é incomum ouvirmos expressões como: “Se Deus quiser”, “vai com Deus”, “Deus te abençoe”, “Santo Deus”, “meu Deus”. Enfim, expressar Deus, falar/ouvir a palavra “Deus” faz parte do nosso cotidiano; 

b) Na segunda parte da resposta, Ezequiel vai muito além de expressar Deus, ele vive entregue à Sua soberania: "tu o sabes" . Viver entregue à soberania de Deus é algo raro. Poucos tem essa percepção, porém essa é uma atitude base para prosseguirmos a fim de alcançar nossos objetivos. Devemos viver entregues à soberania de Deus. Para muitos, ossos secos reviverem é loucura. Mas para nós, "Deus sabe". Se Ele quiser, ossos revivem, surdos ouvem, mudos falam, coxos andam e mortos se levantam. Porém, se Deus não quiser, ainda assim, Ele tem o melhor para nós. 

Se temos que duvidar de algo, que duvidemos de nós mesmos e nunca da razão de Deus, que é a Verdade. O homem moderno faz o contrário, ele duvida de Deus e nunca de suas próprias razões. Quando a Bíblia diz que devemos vigiar, significa que devemos duvidar antes de formar conceitos; Se somos transformados de glória em glória, significa que em todo momento podemos ter nossas verdades quebradas e transformadas nos conceitos de Deus. Portanto, se temos que duvidar de algo, devemos duvidar de nós mesmos e viver entregue à soberania de Deus. 

Nesse dia a dia de confronto, o mesmo homem moderno que tem certezas em si mesmo e duvida até da existência de um Deus, afirma que os cristãos não pensam e são limitados. Quando aceitamos a Cristo, passamos a viver também em outro mundo, o "mundo espiritual". Se vivemos em dois mundos (físico e  espiritual), nosso leque de assuntos e pensamentos aumentam muito. Por exemplo, os ateus nunca podem pensar em certos assuntos, tais como: céu, inferno, poder de Deus ou agir de Deus. Eles pensam apenas de forma racional nas coisas do mundo físico. Portanto, não somos limitados, pelo contrário, pensamos mais que o mundo e somos livres em Cristo Jesus.

Devemos viver entregues à soberania de Deus e não apenas expressá-la. Apesar de parecer que está tudo morto, destruído e perdido, ter essa atitude significa crer que Deus pode fazer o impossível. Viver entregue à soberania do Senhor significa crer que o Senhor, quando deseja, pode exercer o seu poder supremo e fazer qualquer coisa. E se Ele não fizer, sempre é para o nosso bem. Por isso, minhas palavras ao criador hoje são: "Soberano Senhor, Tu o sabes".

Em Cristo, 

Rafael Francelino