julho 25, 2014

O Reino de Deus agora - Parte I


Ao ler nesta manhã o livro Surpreendido pela esperança, de N. T. Wright, deparei-me com um trecho que finalmente resolveu uma inquietação que havia em meu interior. Queria elucidar o paradoxo que há entre a inauguração do Reino de Deus com o nascimento de Jesus Cristo, trazendo o começo da renovação da criação na vida daqueles que o recebem como Senhor e Salvador, e o aumento da maldade dos últimos dias. Algo que eu talvez já tivesse apreendido, mas que ainda não conseguia traduzir em palavras. Acredito no poder da transformação pelo Evangelho. Mas também acredito que o mundo só vai piorar, até a segunda vinda de Cristo. Quanto mais leio a Palavra de Deus, mais entendo a necessidade de se clamar para que o Reino de Deus venha. Mas se por um lado vejo Cristo ensinando o povo a orar “venha o Teu Reino”, por outro lado percebo o inevitável fatalismo da doutrina dos últimos dias. Os cristãos têm certeza da obra futura, mas, em que implica no presente a chegada do Reino de Deus?

N. T. Wright escreveu: “Todo o ministério de Jesus abrangia o que ele estava fazendo no presente e o que estava prometendo, a longo prazo, para o futuro. E o que ele estava prometendo para o futuro e fazendo no presente não era salvar almas sem corpo para a eternidade, mas resgatar pessoas da corrupção e da decadência do mundo, para que elas pudessem desfrutar, já no presente, da renovação da criação, que é o propósito supremo de Deus — e para que elas pudessem, assim, se tornar suas companheiras e parceiras nesse projeto mais abrangente”. Destaco o trecho “resgatar pessoas da corrupção e da decadência do mundo”. Não terminei de ler o livro, não sei a que conclusão o autor chegou. Mas eu já tenho a minha conclusão.

Clamar para que o reino de Deus venha não significa que o mundo irá melhorar ou que vamos mudar o mundo. Não significa que o mundo ficará melhor, mas significa que nós ficaremos melhores, pois estamos sendo resgatados da corrupção do mundo. Ao menos é o que deveria acontecer. Assim, quando clamo pelo Reino de Deus, estou clamando não apenas para que o Senhor complete sua boa obra através de sua segunda vinda, mas também e, principalmente, estou clamando para que eu seja transformada e para que mais pessoas sejam resgatadas da corrupção de um mundo que só tende a piorar. Porque o Reino de Deus está dentro de nós, como escrito em Lucas 17.21, as pessoas é que precisam ser transformadas. As pessoas é que são o objeto principal do amor de Deus e devem ser o objeto principal de nossa ação. Quando as pessoas são transformadas, aí sim, as suas ações podem influenciar positivamente o meio em que vivem, embora geralmente de maneira limitada. A alguns poucos Deus dá a graça de verem o bem que fazem repercutir de maneira grandiosa. Mas o Reino de Deus implica em transformação primeiramente do interior, que reflete em ações. Independentemente de o mundo melhorar ou piorar, as nossas ações devem sempre refletir um coração transformado de uma pessoa que não tem mais compromisso com a corrupção. O que quero dizer não é que não devemos nos importar com esse lar terreno que Deus nos deu. Mas há um ponto de equilíbrio e um ponto de partida. Bem escreveu G. K. Chesterton em Ortodoxia sobre o homem: “Ele é pagão o suficiente a ponto de morrer pelo mundo e cristão o suficiente a ponto de morrer para o mundo?”.  E pela leitura de Romanos 12.2 entendemos que antes de tudo nós é que precisamos ser transformados: “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento...”

Daí a grande resistência que tenho à teologia moderna que está preocupada demais com as ações da igreja sem preocupar-se essencialmente com o que dá sentido a essas ações. Teoricamente, é uma teologia impecável, e eu me preocupava tentando identificar em que ponto ela se diferencia do que acredito. E o que percebi é que na prática estão tentando transformar o mundo, esquecendo-se de transformar as pessoas. Entendam que não sou daqueles cristãos que estão contentos com a certeza de sua salvação, não se preocupando em proclamar o Evangelho, aguardando apenas pela morte ou pela volta de Cristo. Mas falarei mais sobre isso no próximo texto.

Enfim, o que quero essencialmente dizer neste primeiro texto é que há sim um equilíbrio entre a chegada do reino de Deus e a maldade destes e dos últimos dias. Deus irá transformar o mundo, mas o reino de Deus no presente representa principalmente a transformação do homem, resgatando-o da corrupção interior e exterior. Assim, que venha o Reino de Deus, trazendo transformação aos nossos corações.

Em Cristo,

Eliúde Damásio



1 comentário(s):

  1. E eis que mais uma voz desperta do coma do evangelho que nos deparamos hoje!

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